A publicidade sempre foi um mercado dinâmico, mas por muito tempo, a liderança das agências ficou restrita a um perfil bem específico: homens. Felizmente, esse cenário vem mudando. Mulheres estão assumindo cargos estratégicos e trazendo novas perspectivas para o setor. Só que essa mudança ainda acontece de forma desigual e, em muitos casos, mais devagar do que deveria.
Líderes como Hilda Schutzer, Christina Carvalho Pinto e Vera Peixoto abriram portas para essa transformação no Brasil, mas os desafios continuam. Ainda existem barreiras estruturais que dificultam a ascensão de mulheres na publicidade, desde vieses inconscientes no momento da contratação até a falta de políticas internas que garantam igualdade de oportunidades.
O fato é que investir em diversidade não é só uma questão de justiça social, mas também de inteligência de negócios. Dados da McKinsey & Company mostram que, na América Latina, empresas com equipes executivas diversificadas em termos de gênero têm 14% mais probabilidade de superar a performance de seus concorrentes (Diversity Matters, McKinsey & Company, 2020). Além disso, empresas percebidas pelos funcionários como diversas têm 93% mais chances de apresentar uma performance financeira superior.
Isso acontece porque diversidade não é apenas uma questão de representatividade, mas um fator que impacta diretamente a inovação e a tomada de decisões estratégicas. Ambientes mais diversos tendem a ser mais colaborativos e criativos, o que é essencial para o setor publicitário, onde a inovação e o pensamento fora da caixa são diferenciais competitivos.
Mas como, na prática, as agências podem construir um ambiente mais igualitário? Vamos explorar isso agora.
O cenário atual da liderança feminina nas agências
Hoje, mulheres ocupam uma parte relevante do mercado publicitário, mas isso não se reflete no topo da hierarquia. Mesmo com avanços, a equidade de gênero ainda não foi alcançada em muitas agências. Além disso, a disparidade salarial entre homens e mulheres no setor persiste.
O problema vai além dos números e está diretamente ligado a alguns fatores estruturais:
- Vieses inconscientes: muitas decisões de contratação e promoção ainda são influenciadas por estereótipos. Existe uma tendência a associar liderança a características tradicionalmente vistas como “masculinas”, como firmeza e objetividade, enquanto as mulheres são frequentemente vistas como mais emocionais ou colaborativas, o que pode impactar a percepção sobre sua capacidade de decisão.
- Estereótipos de gênero na publicidade: Durante décadas, a própria indústria reforçou papéis de gênero limitantes, e isso influenciou a cultura das agências. Quando as referências criadas reforçam a desigualdade, esse comportamento se replica internamente.
- Falta de políticas eficazes: Muitas agências não possuem iniciativas estruturadas para garantir diversidade. Sem metas claras, programas de desenvolvimento e um olhar atento à equidade, a mudança acontece de forma lenta e desigual.
Os benefícios de um ambiente igualitário nas agências
A diversidade traz ganhos concretos. Um estudo da McKinsey & Company mostrou que empresas com mais equilíbrio de gênero têm 21% mais chances de ter uma performance financeira acima da média.
O motivo? Equipes diversas combinam diferentes perspectivas e experiências, o que leva a uma tomada de decisão mais rica.
A pesquisa da McKinsey indica que funcionários de empresas percebidas como comprometidas com a diversidade têm 152% mais chances de propor novas ideias e experimentar novas formas de fazer as coisas. Isso se traduz diretamente na inovação das agências, já que diversidade de gênero na liderança contribui para campanhas mais criativas, conectadas à realidade do público e menos estereotipadas. Além disso, ambientes mais inclusivos aumentam a retenção de talentos e fortalecem a cultura organizacional.
Como as agências podem criar um ambiente mais igualitário?
Para que a equidade de gênero seja mais do que um discurso, é preciso implementar mudanças reais dentro das agências. Aqui estão algumas estratégias que fazem diferença:
Contratação e promoção mais justas
Reduzir os vieses inconscientes nos processos seletivos é um passo fundamental. Uma maneira eficaz de fazer isso é adotando currículos às cegas na primeira triagem, removendo nome e gênero dos candidatos para evitar julgamentos enviesados. Além disso, padronizar perguntas nas entrevistas ajuda a garantir uma avaliação mais objetiva e focada em competências. Outra estratégia importante é definir metas de diversidade para posições estratégicas e monitorar constantemente a evolução.
Empresas comprometidas com diversidade não apenas atraem mais talentos, mas também retêm seus colaboradores por mais tempo. De acordo com a McKinsey, funcionários que percebem a empresa como diversa têm 36% mais chances de querer permanecer nela por três anos ou mais. Além disso, esses funcionários são 15% mais propensos a buscar promoções, o que significa que um ambiente igualitário não apenas reduz a rotatividade, mas também impulsiona o crescimento interno dos profissionais.
Isso reforça a importância de processos seletivos estruturados e programas de desenvolvimento, garantindo que a ascensão de mulheres e outros grupos sub-representados aconteça de forma justa.
Mentoria e desenvolvimento de liderança
Ter referências femininas em posições de liderança é essencial para inspirar e preparar outras mulheres. Agências podem investir em programas de mentoria estruturados, onde líderes compartilham experiências e apoiam o crescimento profissional de mulheres dentro da empresa.
Equilíbrio entre vida profissional e pessoal
A dupla jornada ainda é uma realidade para muitas mulheres. No Brasil, elas dedicam em média 10,4 horas a mais por semana a tarefas domésticas do que os homens (IBGE), o que impacta diretamente suas oportunidades de crescimento profissional. Para combater esse desequilíbrio, é essencial que as agências adotem medidas como flexibilização de horários e modelos híbridos de trabalho, permitindo que as colaboradoras conciliem melhor suas responsabilidades pessoais e profissionais.
A revolução do trabalho remoto e híbrido tem desempenhado um papel crucial na inclusão de mulheres na força de trabalho. Dados recentes do The New York Times mostram que 70% das mães com filhos menores de 5 anos estão ativas no mercado de trabalho, depois da pandemia em que os regimes de trabalho remoto ou hibrido se estabeleceram. Um aumento significativo em relação aos anos anteriores. Esse cenário ressalta a importância de políticas flexíveis que não apenas apoiam a participação feminina, mas também promovem a liderança feminina em todos os níveis organizacionais.
Benefícios como auxílio-creche e licença parental estendida para ambos os gêneros também são fundamentais para equilibrar a divisão de tarefas dentro e fora do ambiente corporativo. Além disso, um modelo de avaliação baseado em entregas, e não no número de horas trabalhadas, contribui para uma cultura mais justa e produtiva.
Ambiente seguro e cultura organizacional inclusiva
Criar um ambiente seguro significa estabelecer políticas claras contra assédio e discriminação. Para isso, é essencial investir em treinamentos contínuos sobre diversidade e combate ao assédio, capacitando todos os colaboradores a identificar e enfrentar essas questões. Ter um canal de denúncia anônimo e garantir que investigações sejam conduzidas de forma independente também são medidas fundamentais para proteger a equipe e criar um espaço de confiança. Além disso, revisar regularmente o código de conduta da empresa e reforçar a política de tolerância zero contra qualquer tipo de assédio ou preconceito fortalece a cultura organizacional.
A importância da organização de processos e tarefas para um ambiente inclusivo
A falta de organização dentro das agências pode reforçar desigualdades. Se as tarefas não são bem distribuídas, mulheres podem acabar acumulando responsabilidades operacionais enquanto os homens se destacam em funções estratégicas.
Garantir processos claros e bem estruturados evita sobrecargas desproporcionais e ajuda a criar um ambiente mais equilibrado. Quando todos têm clareza sobre suas funções e expectativas, o trabalho flui melhor e a equipe se torna mais colaborativa.
A liderança feminina nas agências não deve ser vista apenas como uma tendência, mas como uma necessidade para o crescimento do setor. Criar um ambiente igualitário exige mudanças estruturais e um compromisso real das empresas. Quando as agências investem em diversidade e inclusão, todo o mercado ganha: a criatividade se expande, o desempenho melhora e a cultura organizacional se fortalece.
A transformação já começou, mas ainda há muito a ser feito. E a pergunta que fica é: o que a sua agência está fazendo para fazer parte dessa mudança? Deixe nos comentários!